domingo, 4 de dezembro de 2011

Prosaica

É como me sinto.

Vasculhando minhas memórias e redes sociais, dou de cara com lembranças de frases, lugares, momentos de décadas que eu achava que não voltariam mais. Voltaram. Novamente tive vontade de rever Portugal, parentes e amigos. De beber da mesma taça mensal do Miradouro de Santa Justa, no Bairro Alto, a comemorar o recebimento da bolsa de estudante...

"Você me ama?" - "Sim, mas não vou te buscar um copo d'água".

E por mais que eu tenha viajado pelos meus mares nunca d'antes navegados, a surpresa e o maravilhamento do novo são interrompidos pelas minhas lágrimas de saudades. Deus me fez de peixes para chorar pela última vez. Mas só que nesta vida toda.Onde estão minhas alegrias e meus prazeres? Eu não aguento mais tantas dores, sofrimentos calados, tristezas pequenas, comezinhas, de coisas sem importância. Fico me perguntando porque vejo e sinto? Queria passar incólume pelas coisas, queria que nada me fizesse sentido, queria não conhecer o sabor da mágoa.

Queria não sentir saudades. Queria não sentir raiva. Queria não sentir mágoa.

Sinto minha alma como uma flor de castanheira amassada. Como uma alma de desenho animado, esgueirando-se por debaixo de uma porta. Explico: pisada como a flor, fina; "sem corpo" como nos desenhos, escorregadia.

Prosadora e prosaica, venho repetindo de mim aquilo mesmo que quis mudar... e por isso não consegui. Ser o mesmo mudando? Mudar sendo o mesmo? Impossível. É uma conta que não bate, que não fecha no fim do mês.

Prosaica e prosadora, eu de mim para mim mesma. Quero me guardar mas necessito me mostrar. Mas quem necessita saber quem sou? Apenas eu mesma. Eu comigo. Eu por mim.