sexta-feira, 18 de maio de 2012

Visionário louco

Eu já estava dormindo. Eram duas da manhã. Mas elas vieram dos meus pensamentos, dos meus sonhos, e me acordaram. Duas palavras dispostas numa sequência. Uma senha: visionário louco.

Abri os olhos mesmo deitada e fiquei tentando cantarolar. Ainda demorou um pouco, mas acho que mais por causa da sonolência, que pelo esquecimento.

"Numa tarde quente
Num dia de verão
Um visionário louco
Fez um sonho em vão
E você partiu
Para nunca mais voltar
E quando eu olhar
Para o céu eu vou lembrar
De um visionário louco
e sua asa-delta
Meu homem-sagitário"

Essa era uma canção que significou muito pra mim nos meus treze ou quatorze anos. Essa e várias outras que falavam de sonhos libertários, bem típicos da adolescência. Mas não me lembro ao certo se aprendi  essa música com a Fanny, com a Helô ou com a Patty... o que me lembro é que nessa ocasião todas convivíamos muito. Foi a melhor época, a do colégio, quando não tínhamos preocupação nenhuma, apenas sonhos libertários e namorados-sagitários...

Pois bem, estou sempre falando do meu baú de amigos, dos planos de rever os amigos, e me parece que eles estão chegando pra mim. Um pequeno evento começou a ser esboçado, gestado com muito carinho. Um encontro dos colegas do CRM - Colégio Regina Mundi.

Eu não sei explicar, mas sinto como se estivesse num filme do Spilberg, voltando no tempo... eu me esqueço da minha idade (trinta anos se passaram!!) e me sinto realmente com aqueles catorze anos, na oitava série... e mesmo com toda a dor e a angústia sentida - afinal, quem já foi adolescente sabe!! - eu me sinto leve.

Eu me sinto rodeada de amigos, de colegas engraçadinhos prontos a contar umas piadinhas no meio da sala,  eu me sinto naquela vibração.

Naquela época, eu não ficava fazendo planos de ter amigos pra sempre, de manter o contato pra sempre. Quem faz isso?? Tanto é que perdemos o contato. Todos. Por muito tempo. É claro que sempre ficamos mais próximos de um ou de outro, mas cada um seguiu o seu caminho.

Mas trinta anos se passaram. Alguém se deu conta disso? E hoje, eu me sinto mais próxima do que antes... e parece que o sentimento é o mesmo. Parece que, a cada palavra, recordamos os motivos de porque nos tornamos amigos. Reencontramos uma identidade, mesmo a distância.  E foi um pequeno recadinho que recebi que me fez lembrar dessa canção.

Eu estou muito feliz. Por enquanto, apenas virtualmente. Mas espero concretizar logo esse encontro.
Na nossa vida de adultos, carregamos muito peso. Nossa rotina é muito árdua. O redemoinho do cotidiano é implacável como um furacão. Acho que por isso a ideia desse reencontro tem sido tão agradável, pois sei que vai trazer leveza, alegria, uma vibração boa, positiva.

Vamos lá, galera, esse encontro sai ou não sai??????????


quarta-feira, 9 de maio de 2012

Invisibilidade

Todos nós um dia já nos deparamos com a invisibilidade humana.
Não aquela do cinema, de super-heróis vindos dos quadrinhos.
Digo aquela doída, dos excluídos. Marginalizados. Ignorados.
Eu acreditava que o caso mais grave era o dos lixeiros. Que até tese de um professor da USP tem.
Mas ultimamente essa categoria tem se saído muito bem. Não sei se por alguns de seus integrantes, que por força do hábito de lutar pra ser feliz insistem em nos dizer bom-dia para serem notados; não sei se por causa daquele gari famoso pelo carnaval do Rio de Janeiro; não sei se porque sempre saem matérias no jornal e na TV, escancarando as letras nos contando que "até" pra lixeiro existe concurso público; não sei se porque em muitas cidades eles passam correndo alegres para realizarem o seu trabalho fazendo a maior algazarra, enfim, os lixeiros não são mais os mesmos invisíveis de antes. Bem, em tese. Em uma outra tese.
Mas voltando ao ponto do início, da invisibilidade humana.
Da própria invisibilidade humana.
Tenho me esforçado (e muito) para ser apenas alguém comum. Mas carregar essa bandeira não tem sido nada fácil.
Devo estar com a auto-estima baixa, muito baixa, para me incomodar com pequenos episódios pessoais altamente insignificantes, mas capazes de me desestabilizar por completo.
Aquele velho dilema entre essência e aparência (lições aprendidas na infância) tem se tornado vazio nos dias atuais. E, diante disso, tenho me notado invisível socialmente. Não de todo, por completo (graças!), mas no redemoinho do dia-a-dia. E olha, que pra até eu mesma ter percebido, é porque a coisa está feia.
Não que eu me incomodasse - até agora - mas eu não sabia que eu não me via, ou melhor, que não me viam, que eu era invisível. (Tenho um espelho enorme no meu quarto que insiste em olhar pra mim todas as manhãs e antes de eu deitar.)
O fato é que não há fato nenhum. Desde quando eu (ou qualquer mortal, normal da cabeça) devo valorizar pequenas picuinhas, coisinhas de nada, assim à-toa, besteirinhas tão diminutas e fúteis?
Eu, que me considero forte até morrer;
eu, que me considero guerreira de São Jorge;
eu, que atravessei desertos e cheguei ao meu destino...
eu, apenas alguém comum.
Coisinha.
Dona coisinha.
O fato mesmo é que depois que inventaram o conceito de marketing pessoal, eu fiquei meio à deriva. Culpa da educação que tive, educação anti-belicosa, do deixa pra lá.... e de tanto marketar ao contrário de mim mesma, acabei invisível...
e parece que não importa o fato de ser íntegra, idônea, batalhadora, guerreira, determinada, focada, ter um nome limpo e sem dívidas,
e parece que não importa o fato de eu ter tido educação e cultura e poder ter transmitido isso aos meus filhos,
e parece que não importa o fato de ter uma casa, de ter comida em casa, de ter contas pra pagar e pagar pelas próprias contas na data certa,
e parece que não importa o fato de eu ter amigos de longa data, uma bagagem, uma história anterior a esta,
e parece que não importa o simples fato de ter um bom guarda-chuva em dias como o de hoje, entre tantos outros exemplos miúdos.
Mas não se enganem. Os exemplos citados, devem ser apenas impressões. Não é possível, não dá pra realmente acreditar que o mundo deixou de oscilar entre a essência e a aparência, tendendo apenas para esta última. Devem existir outros invisíveis como eu. Miudinhos, encolhidinhos, "vida inteligente na madrugada".
Não sei se vou conseguir seguir a lição aprendida com os lixeiros, a de seguir cantando, fazendo o meu trabalho na maior algazarra, fazendo barulho para ser notada. Fiquei meio derrubada. Mas quem sabe?
Fatos. Pequenos fatos. Invisíveis. Nem sei se os quero mostrar, mas preciso. Então, para quem quiser ler, enxergar, ouvir e ver.
Ver para deixar de tornar as pessoas invisíveis.