quarta-feira, 6 de abril de 2011

Matei minha própria barata e fui embora

Engraçados os seres humanos que somos. Gostamos de falar que somos guerreiros e dignos. Altivos. Abrimos o peito e nos enchemos de orgulho para dizer que matamos um leão por dia. O que ganhamos com isso?

Ontem matei minha primeira barata. 

Pensei, seriamente, em chamar meu filho para fazer o serviço. Mas lembrei-me de um conto do Carpinejar. Em frações de segundo, enquanto eu decidia o que fazer, vários autores me vieram à cabeça: Kafka, Clarice Lispector, Carpinejar... só que ele estava dormindo (o meu filho, claro). E eu não quis transferir essa tão grande responsabilidade a um jovem de 11 anos. Sei que ele não se intimidaria com a tarefa e desferiria um golpe mortal e certeiro sem o menor pudor ou muxoxos de nojo. Mas decidi que faria eu mesma a execução. Sabia que eu era capaz. 

E "se um dia, vivi a ilusão de que o mundo masculino tudo me daria" ... acabara ali, para quase todo o sempre - com algumas raras exceções, é claro - esse desejo arcaico dos séculos passados.

Nos meus cálculos mentais, achei por bem deixar preparado o plano B, enquanto partia pra ação no plano A. Pensei também que, já que teria de fazer isso, nada de uma morte química, com um asséptico inseticida paralisante. Seria de um jeito brutal: a vassouradas. Pois bem. Tudo a postos. Plano B: deixei a porta aberta para que a coitada pudesse fugir para a rua, caso eu viesse a fracassar. Plano A: a boa e velha vassoura de piaçava (logicamente que por ser mais dura, deveria ser mais eficaz!) e a pazinha ao alcance da mão. 

E lá fui eu, pé ante pé, localizar a inimiga. Zás. Uma, duas, três, quatro lancinantes vassouradas na desgraçada. Ela tentou fugir, mas consegui capturá-la. Ela se contorceu (deve ter gemido). Ela cambaleou, mas por fim sucumbiu. Ficou despedaçada, sem antenas, esmagada.

E eu? Saí fortalecida. Matei minha própria barata e fui embora. Mas fiquei me questionando sobre os efeitos futuros desse ato. O que isso me torna? Guerreira? Vitoriosa? Persistente? Determinada?

Desanimada seria o mais próximo do que senti. (Seria, não fosse um constante policiamento de minha parte para não me deixar abater...). De que me vale tanta força, sair para caçar leões e matar baratas, diariamente?

Na verdade, esse simples gesto abriu um precedente. E essa é apenas mais uma das habilidades que a partir de agora posso incluir no meu currículo.



Um comentário:

  1. Caso alguém tenha interesse, o texto citado do Carpinejar é do dia 06/12/2010 e se chama Para que servem os homens. Está no blog do autor:

    carpinejar.blogspot.com

    Por que será que eu fiquei com ele na cabeça?

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