domingo, 8 de abril de 2012

Abri meu baú

Abri meu baú de memórias e estou rodeada de fotos sobre a mesa.
Sabia que isso aconteceria um dia, quando aleatoriamente comecei a juntar fotos espalhadas dentro de uma mala significativamente velha.

Agora tento separar em períodos, décadas de meu passado. Fotos da minha infância, dos meus amigos, dos meus passeios, das minhas viagens, dos filhos, dos pais, das situações mais estapafúrdias, das partidas, das chegadas, de namorados, de amigos que se foram, do meu avô, da minha primeira comunhão, de Portugal, fotos tristes, fotos alegres... momentos que tento classificar. Tarefa que sei que não vou concluir.

Como disse, sabia que esse dia chegaria, o dia de abrir meu baú de riquezas.... mas a arrumação não será hoje. Hoje vou me dar o prazer de ver e reviver esses momentos.

Fiquei até as duas da manhã e nem consegui dormir direito. Acordei mal. De ressaca. Tomei um porre do passado. Tantas fotos de festas, bares, e eles sempre lá. Os mesmos! Vi e revi os mesmos amigos aos 14, 17, 20 e poucos, 40... até sonhei que estava indo numa festa e fui barrada, amigos entraram em ação, pulando muros comigo e trazendo a festa até mim.

Quando acordei hoje, de ressaca, meus amigos já estavam guardados na mala, desordenados,  mas a mala aberta, na sala, dialogou comigo o dia todo. Ou melhor, me questionou: o que vou fazer?, como vou buscá-los?, quais pistas eu vou seguir?, quando vai ser o reencontro?

Tenho planejado uma viagem. Aliás, estou plena de ideias, a cada respiro, uma nova ideia brota, mas essa viagem, vai ser um resgate. Fiquei em dúvida entre a ganância e a luxúria. Explico: 48 dias de inverno ou apenas 30 de primavera?

Já me decidi. Escolhi a luxúria: 30 dias de primavera, pois o reencontro que busco são as esplanadas da Avenida. À tarde. Uma vez escrevi que queria que as calçadas conhecessem o peso dos meus pés. E, lá, elas conhecem.... também quero buscar por elas, as calçadas por onde andei, onde fiz meu primeiro caminhar.

Fiquei tentada pela ganância: 48 dias seguidos não são de se desprezar... mas eles seriam no inverno. Rigoroso. Quando os dias são curtos, frios, chuvosos, abaixo de 10º, e infinitamente melancólicos...
Se bem que eu poderia usar o mesmo sobretudo negro e pesado, mais pesado que as dores da alma...

Mas já me decidi: quero a primavera. E quero fazer a viagem dos meus sonhos: vou levar uma mala leve, pequena, fácil de ser transportada. Uma mala-ideal. Já me vejo descendo no Aeroporto de Portela, me deslocando pelas calçadas, às quais me despedi há tanto tempo... ah, não há maior prazer do que chegar a um porto conhecido... sinto isso quando chego em São Paulo, sinto isso quando chego em BH, e agora sinto isso quando chego em Vitória.

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Depois daquela noite, fechei de novo o baú. E parece que me tranquei dentro dele. Como posso ser tão ridícula, fazendo planos? Tenho me tornado especialista. Perita. Em fingir, de certa forma, mentir, em dizer que está tudo bem e que meus olhos não estão querendo explodir em lágrimas.
Tenho saído de fininho, para enxugar a mágoa. Tenho me mantido forte e de pé. Mas minto pra mim e para os outros (não que eu me importe em mentir) mas a verdade é que minto quando digo que sou forte. Porém, estou quase me desmanchando, sinto febre e dores, mas mesmo assim tenho que calçar os sapatos e sair. E mesmo assim ainda não entendo porque alguém me mandou rasgar tudo. Deveria? Que preço estou pagando...


E além disso tudo, o pior, tenho me sentindo ridícula. Fazendo planos e sonhos, pensando em viagem de busca, reencontros, escrevendo coisas, brigando com o Frejat... como sou ridicula e fútil...
Como posso viajar se estou presa? Estou sem portas nem janela. Olho para o teto e não vejo nada.
Quando fui presa pela primeira vez, tive forças, lutei, resisti. Mas agora, anos depois, não me restou nada. Nada. Uma alma em frangalhos e doente. Fraca. Sem forças. Sem esperanças. Sem motivo porque lutar.
Estou presa.
Presa.
Presa.
E estou começando a achar que assim é mais fácil...

2 comentários:

  1. Adoro tudo que vc escreve...me identifico demais com vc.
    Boa sorte

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  2. Suas mãos estão se algemando, querida. Nessa nova prisão é vc mesma que está assentando cada tijolo. Abstraia-se. Mude o foco. Vc enxerga fraqueza onde eu vejo coragem, força, perseverança. Sei que é uma fase melancólica, tb precisamos desses momentos, são necessários, reconheço. Mas já tá na hora de pegar aquela marreta e começar o serviço pesado: arrebenta essa parede aí, filha! :) (Conte comigo pra essa empreitada. Cimbora pra Dona Onça!) rs Bjs Lê

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