segunda-feira, 13 de junho de 2011

Homenagem ao Fernando

Hoje Fernando faz anos.
E está só. Novamente. Assim como eu.

Hoje Fernando tem dúvidas, angústias, queixumes.
E está só. Novamente. Assim como eu.

Hoje Fernando se sente reles, vil, baixo.

Hoje Fernando se deita na relva e conhece a realidade.

Hoje Fernando é um eterno estrangeiro - aqui como em toda parte.

Grandes goladas de ar suspirado fizeram Fernando engasgar.
Assim como eu.

Uma vez Fernando disse que em sua biografia só havia duas datas: nascença  e morte - e entre uma e outra, todos os dias seus. Hoje é teu dia, Fernando, mas também é o meu. Embora não tenhamos nada em comum, embora sejamos opostos, sexos distintos, um século distado e sequer tocássemos as mesmas bordas do tempo, eu provei das águas do teu rio. Ao banhar meus pés e mãos nas águas de tua aldeia, pude saber tudo. E, do cimo de tua casa caiada, vi tuas paisagens, senti teus aromas de figos maduros, toquei a rugosidade das cortiças e vislumbrei os amarelos dos girassóis. E eu me deixei ficar por ali. Feitiço? Aquela relva, aquele vapor, aquela tabacaria, tudo misturado em mim. As águas de um rio, as águas do rio, rio, rio, rio...

Fernando-sabido, Fernando-escondido, Fernando-em-flor: nasce, cresce, vive, desabrocha em dor...e está só. Novamente. Assim como eu.


"Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge.
 Mas finge sem sentimento.
 Nada ´speres que em ti já não exista.
 Cada um consigo é triste.
 Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas,
 sorte se a sorte é dada."

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