Atingi a maioridade. Fiz 21 anos mas parece que envelheci dez. Mas, ao invés de querer voar, passei a ficar ranzinza. Achar normal engordar. Não ter vontade de tomar banho ou cortar o cabelo. Não sair. Não rir. Não achar nada legal pra fazer. Tenho me sentido ordinária, vulgar, comum, mesmo. É que vivo num jogo de esconde comigo. Sou apenas alguém comum. Não sou. Às vezes gosto. Às vezes, não.
Tenho sim (tenho mesmo!) amigos que me elogiam e me elevam, e sinto que cometem crimes comigo: fazem-me acreditar que - destoando de minhas definições próprias - eu possa me tornar alguém especial. E nesse balé de contratempos vou me perdendo ou me encontrando de mim mesma, do que fui, sou, serei ou pensei que alcançaria ser.
Alguém poderia me responder se é possível viver sem um relógio centralizado na parede? Ou melhor, alguém poderia fazer coro comigo? E porque é que eu me incomodo tanto? Eu penso tantas coisas dentro de mim. E penso sempre de dentro pra fora. Nunca reparei num conjunto de almofadas. Isso é errado? Tenho visto as pessoas serem bem sucedidas de acordo com a capa. Enquanto eu, que tantas vezes revisito o meu interior, não consigo me propagandear. Não consigo dizer: - "Ei, eu estou bem! sou decidida, determinada, forte até morrer! sigo há tempos numa jornada sem fim, mas estou bem! Minhas roupas não combinam e meu sofá é velho, mas estou prosseguindo..."
Sabe aquela velha e preconceituosa piada do sujeito que não consegue ser o bastante para ser engenheiro e nem tão pouco para ser arquiteto? Vira, então, decorador de interiores... Isso é horrível. Confesso. Mas é o que tem ecoado em mim nestes últimos dias. Alguns decoram interiores e eu procuro descobrir os meus terrenos internos. Isso me faz melhor? Não, se no fim sou eu quem sofre. O decorador olha pro teto, mede o chão e define: cabe; não cabe; fica bem; não fica. Ele é assertivo. E eu? Meus terrenos interiores são vastíssimos e não me permitem ser categórica. Piso sempre em areias movediças. E sempre cometo o erro de não ser cautelosa: vou com tudo, me jogo, me esbaldo. Tenho fé e acredito piamente no que é apenas um aceno, uma promessa... depois me acabo de chorar com a dúvida, a incerteza, a vontade de querer continuar acreditando. O meu tempo não é contado pelo relógio da parede. O meu descanso nem é físico. Meus sonhos não são gestados no sofá da sala. Acho que é por isso não consigo prestar atenção nas almofadas...
Mas não quero mais discutir com os decoradores. Quero aceitá-los, conviver com eles, embora sinta que tenho de lutar para ser aceita como sou - ou penso que sou, ou penso que mostro que sou. É difícil transitar pelos mundos. Por mais que eu tenha experiência em ser peregrina. Não quero mais ser apenas alguém comum. Quero ser apenas alguém normal... Mas então, uma vez conhecido o Fernando, é inarredável em mim o sentimento de ser estrangeiro. Aqui como em qualquer parte. É a minha sina. O meu fado. Sou estrangeira. Sou estrangeira. Sou estrangeira. Sou estrangeira. Sou estrangeira. Sou estrangeira. Sou estrangeira. Sou estrangeira. Sou estrangeira. Sou estrangeira. Sou estrangeira. Sou estrangeira ...
Amiga nunca se subestime....e acredite sempre nos seus amigos... amigos verdadeiros só nos fazem elogios qdo realmente sentem....
ResponderExcluiros outros...bom esses só falam o que queremos ouvir..ou o que os faz serem "simpáticos" e
"aceitos".
Escreva sempre... assim vc nos dá a oportunidade de estar mais perto de vc....
Te adoro...Mauê.
Com seu olhar de poeta, você é capaz de clarear e traduzir os sentimentos em palavras. Seus textos prestam um serviço ao mundo, mesmo que vc sinta que o alcance é pequeno. As pessoas precisam despertar, estar mais conscientes, olhar para dentro e perceber: Como eu me sinto diante de tudo isso? ... É um desafio e tanto vivendo nesse mundo louco que não nos dá esse tempo e nos rouba de nós mesmos... Ainda bem que existem os poetas, a música, o teatro, que nos tocam lá dentro e nos fazem lembrar do essencial. Um brinde a você, a sua sensibilidade!
ResponderExcluirDel