segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Minha privada vida pública

Já dizia o Barão de Itararé:
"A minha vida pública é uma continuação da privada"

Ironicamente, apesar de me expressar muito, gosto de me expor pouco.
Apesar de fazer parte das redes sociais, não frequento as rodas. Eu me explico: sou une lectrice, ou melhor, une voyer desse adorável/odiável espaço público onde as pessoas se expõem sem o menor pudor, sem a menor cerimônia. Assim, vamos sendo convidados, ora por um, ora por outro, a tomar um café, a ir a uma exposição, a ir dormir, a acordar, a ir trabalhar, a saber suas notas, seus trabalhos, seus prêmios, seus clientes, a ver um show, a assistir a um jogo, a viajar de férias...

Ainda não decidi dentro de mim (nem sei se o farei) se isso é bom ou ruim ou mais ou menos. Gosto de me sentir no parapeito da janela virtual, de ficar sabendo das coisas, das pessoas, do que ocorre ao meu redor - já que me situo tão longe. Eu me sinto a velha tia, tomando conta de tudo: quem vai, quem foi, quem vem.
Mas como eu já disse, sou apenas uma leitora desses acontecimentos. Não me exponho. Mas saibam que eu sei. Sei se foi café ou chocolate quente. Sei se o banho foi antes ou depois de postar a mensagem. Sei se o trânsito foi do cão. Mas a minha vida eu não conto.

Mas não conto não é por descaso, desprezo ou por me sentir apartada, não me entendam mal. Nem é por segredo algum. Como já dizia o Barão, é simplesmente porque minha vida pública é uma continuação da privada. E é com isso que eu tenho de lidar. Às vezes, o produto de minha existência diária vai ladeira abaixo. Às vezes, fica boiando nos meus pensamentos, me incomodando, me fazendo ver que preciso tomar uma atitude. Pessoal e intransferível. Todo santo dia. E isso cansa. Como agora.

Estou me sentindo muito cansada. Não sei bem do quê. Acho que estou com natalite aguda. É comparável com uma daquelas sensações de fim de ano, junto com um calor desértico, de estafa, esgotamento, em que você tem de passar para todos os outros que está zen, num clima natalino, feliz da vida, fazendo compras, onde a suprema felicidade é ter dificuldade para encontrar uma vaga nos estacionamentos dos shoppinhgs, ou carregar sacolas enormes do Armazém Fernando na rua 25 de março, mas feliz.

Pois bem,
Eu não dirijo. Portanto nunca tenho dificuldade nos estacionamentos.
Eu não moro em SP. Portanto, 25 de março só na tv.
Eu não vou a shoppings. Portanto não tenho problemas com compras.
Eu não comemoro natal. Portanto não estou num clima natalino.

Mas isso cansa. Qual é o melhor presente para homens, mulheres, adolescentes e crianças? Qual será o cardápio da ceia de natal? Qual o melhor centro de mesa? Qual a árvore mais bonita? Você já fez sua decoração? Que guirlanda irá colocar na porta? quantos castiçais para uma mesa de seis? Já tirou o nome do seu amigo oculto? Já fez suas compras? Já? Já? Já? Comprou? Comprou? Comprou?

Todos os anos é assim. Sempre assim. Eu é que ainda não consegui contornar. Eu me sinto bombardeada diariamente pelos jornais, pela tv, pelas conversas nas ruas. Eu quero pensar em outros assuntos, coisas mais leves ou mesmo mais graves, porém coisas simples, rotineiras, com o sabor da estação do verão. Eu quero pensar no recomeço, nas minhas tentativas frustradas do ano que se acaba e em como transformá-las em possibilidades para o próximo ano. Nas tentativas certeiras que quero repetir.

Eu quero pensar em dados concretos. Na vida concreta que se reinicia a cada dia.
Eu quero pensar numa coisa que tenha começo, meio e fim. Nessa ordem. Na minha mão.
Eu quero criar o meu dia. E a minha própria vida comezinha.
E como é tudo tão novo, tão incerto, tão impalpável, tão cheio de hipóteses, incertezas e dúvidas, eu não exponho. What's on your mind? Eu não sei. Eu não sei.

Lembrei da Rita Lee e imaginei ela cantando:
"me libertei daquela vida comezinha que eu levava estando junto a você..."

Ninguém que eu conheça na face da terra ou da janela virtual leva uma vida comezinha. Mas eu levo! Eu juro! E jurar em falso ou é mentira ou pecado. E eu não peco. Embora minta às vezes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário