quinta-feira, 7 de julho de 2011

Morri um pouco

"Viver não é fácil..." -  reclamamos diariamente. 

Mas quando nos deparamos seguidamente com a morte, penso que morrer não é fácil... Hoje, de novo, eu morri um pouco. São tantas as perdas, tantas as dores, que tenho me sentido no automático...

Recebi a notícia da morte de uma amiga... e aquele emaranhado de imagens da adolescência desabaram na minha cabeça, misturando lembranças, conversas, risadas, emoções fortes... parece que um portal do tempo se abriu e o passado se misturou ao presente no aqui e agora. Posso voltar a abrir a janela do meu quarto de adolescente e rever minha amiga lá, tocando violão, fazendo bagunça... Posso fechar os olhos e me ver passeando pelas ruas do meu bairro, indo ou voltando para o colégio, ou indo para a casa dela. Mas, então, quando eu abro os olhos... vejo que estou só, em outra cidade, quase trinta anos se passaram, e, em vez de rir...

Não quero nem me dar o direito de chorar... a culpa é minha por ter deixado tanto tempo passar...
Claro que fomos limitadas por barreiras físicas: eu morei em Lisboa, ela morou no Japão... mas isso foi no século passado... se mesmo assim continuamos nos falando, escrevendo... por que não continuamos depois, aqui? Por que eu não continuei?

Vejo como é errado a gente se afastar dos amigos... o fato de termos um bom sentimento, lembranças agradáveis, não é o bastante! Ah, se eu pudesse aprender a lição... Tantas vezes eu me fecho, eu me isolo, eu tenho vergonha dos meus sentimentos ou dos problemas pelos quais estou passando. Tantas vezes eu me fecho em mim mesma, até mesmo pra preservar o outro... só agora eu vejo que isso não me ajudou em nada, só me isolou.

Ontem assisti a uma matéria no jornal, dizendo que poderemos viver até os 150 anos. Na hora mesmo eu pensei que só seria bom se tivéssemos com quem compartilhar... imagine só: você, com boa saúde, boas condições físicas, experiência de vida, até, quem sabe, um dinheirinho da aposentadoria, talvez cheio de netos adultos, algum filho?, parentes?, mas, então, quer conversar sobre os seus assuntos pessoais e preferidos (provavelmente do século passado), quem irá te fazer companhia?

Eu fiquei pensando, com quem iria recordar as viagens que fiz, os shows a que assisti, os poetas preferidos, colegas e professores da escola, histórias engraçadas, fatos políticos, tudo!?, quem iria fazer coro comigo: - "É mesmo, vivemos tudo isso". Quem? Sendo assim, se não for rodeado de amigos e pessoas que nos fazem a diferença, pra que viver até os 100, 150 anos? 

E, é claro, que um pessimismo caiu em cheio em mim, envolvendo todo o meu ser. Pra que tantas lutas? Tanto empenho? Tanto sofrimento? Pra que querer ser aceito, querer melhorar, querer ultrapassar barreiras e limites? O fim é tão só, tão triste... Relembrei do Ira! e dos Meus dias de luta:

"Só depois de muito tempo 
Comecei a refletir
Nos meus dias de paz
Nos meus dias de luta

Se sou eu ainda jovem
Passando por cima de tudo
Se hoje canto essa canção
O que cantarei depois? - O quê?"


Sei que agora, neste exato momento, só me resta esperar o tempo passar, lavando minhas dores e angústias e torcendo para que a minha mais forte característica fique: a fé. Essa mesma fé, que me traz tanto sofrimento, é o que vai segurar meu espírito dentro de mim, pra que eu também não vá embora. E não estou falando de fé religiosa. Trata-se da fé como força, como crença, como esperança. E embora hoje eu sinta desesperança, eu sei que o tempo vai passar. Vai levar o que for preciso e vai me deixar melhor. Eu tenho fé...   E, então, também me lembrei de Flores...



"De todo o meu passado
Boas e más recordações
Quero viver meu presente
E lembrar tudo depois...

Nessa vida passageira
Eu sou eu, você é você
Isso é o que mais me agrada
Isso é o que me faz dizer...

Que vejo flores em você!...

De todo o meu passado
Boas e más recordações
Quero viver meu presente
E lembrar tudo depois...

Nessa vida passageira
Eu sou eu, você é você
Isso é o que mais me agrada
Isso é o que me faz dizer...

Que vejo flores em você!
Que vejo flores em você!
Que vejo flores em você!
Que vejo flores em você!..."

** Numa estrela cintilante!


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