quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Um olhar sobre parte do Brasil

Sempre viajei muito. Sempre observei muito. Sempre gostei mais de ver-ouvir que falar... Procurei uma identificação em cada um desses meus caminhos. E me vi fazendo parte desse meu povo. Eu me vi mineira, eu me vi baiana: baianeira-brasileira.
As imagens que passavam pelos meus olhos, ficavam gravadas na memória como se fossem uma tela. Aquarela. Como não sei desenhar, escrevo. Como não sei pintar, escrevo. Como não sei fotografar, escrevo. Como não sei cantar, escrevo.  Faço destas palavras a minha exposição.
Numa dessas viagens, entre julho e agosto de 2005, passei dez dias correndo trecho, percorrendo parte do sertão baianeiro. Constatei que entre o norte de Minas e o sertão da Bahia não deveria haver fronteiras. Nem divisas. Pelo menos essa foi a sensação que tive.  
Sou fruto do mesmo povo moreno e humilde que é “antes de tudo um forte” e habita o coração do Brasil. Foi pra terra desse povo, o meu povo, foi pra casa desse homem sertanejo que eu dirigi o meu olhar.
Fixei na memória cada pedaço de chão, cada pé de pau, cada casinha caiada com seus velhos e crianças nas janelas.
Parece que tudo é alaranjado e mágico. Parece uma poeira solar que nos transporta para outra dimensão.
Por meio dos meus olhos,
Viajei meio mundo inteiro
Fui a lugares longínquos
Do imaginário brasileiro
Do sertão eu vi o sol,
Vi a terra virar pó,
Vi cidades minguando,
Vi tanto velho só.

Por meio dos meus olhos,
Vi paisagens seculares
Vi uma beleza errante
Metamorfoseando meus olhares.

É uma beleza triste –
a foto que se tira é uma
Mas a que fica, resiste.


Poema das cores

A luz do sol de fim de tarde
 que bate nas pedras da Serra do Espinhaço
é fantástica.
É um laranja-cítrico
que banha os vales verdes.
É um manto de luz
laranja-terracota.
O azul e o branco pertencem ao céu
– coalhado de nuvens e revoadas de aves.
O verde é suave como um manto,
um fino lençol que se estende ao longo.
O preto pertence ao horizonte rochoso
 – que é quase um prolongamento do monótono asfalto.
Mas a terra é da cor da paixão.
Tem um vermelho intenso,
que invade os olhos.
Fura, penetra, racha o coração.


Os mandacarus são enormes. Gigantes. Maiores que as cruzinhas brancas que vemos ao longo das curvas.  Elas, as cruzes, nos remetem ao fim do começo. Eles, ao começo do fim, pois são, a seu modo, uma fonte de esperança e de renovação.

Quando eu passo pelas casas das estradas,
Não vejo o olhar de quem me vê.
Vejo suas janelinhas tímidas,
Que se abrem para os vastos montes da Serra do Sincorá.
Vejo os pastos
Vejo as plantações
Vejo suas crianças brincando na terra
Mas não vejo seus olhos e seus humildes corações.
A passagem é rápida como um aceno
Mas meu olhar guarda pra sempre aquele sorriso
Que timidamente nem se descortina.


As vergonhas do Brasil  I

Ao lado dos cafés secando nos terreiros
Ao lado de meninos descalços brincando nas ruas
Ao lado das poucas e inexpressivas pracinhas
Há a pobreza, a miséria, a desinformação e o lixo.

Contrastando com palmeiras, mangueiras,
umbuzeiros, jaqueiras centenárias,
 “pets” de todas as marcas
Sacos de todas as cores
Cacos de tudo jogados
Restos mal aproveitados,
Cuspidos como escarros
Dessa escória que só usa e não cuida.

As vergonhas do Brasil II

As estradas deveriam se chamar buraqueiras.
Quando alguém, perdido nas estradas deste nosso vasto território,
Conseguisse achar alguém para se informar,
E  perguntasse qual o caminho, diríamos:

 - Entre na Buraqueira Federal, depois pegue a Buraqueira Estadual, seguindo placa nenhuma.

Com o auxílio dos Orixás, da Bahia de todos os Santos, quem sabe chega!!!

Um comentário:

  1. A sua exposição é tão rica que me permitiu sentir o cheiro da laranja e visualizar cada uma dessas situações.
    Rosilene

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