Conceição tinha mesmo uma mágoa muito grande, pois ela não acabava.
Conceição dizia que mágoa é a "má água" que carregamos dentro de nós.
Toxinas.
Podiam ser curadas com diuréticos, depurativos, dietas, suores e choro.
Ela fazia tudo isso, mas a mágoa não passava nunca... e quanto mais ela chorava, mais seu peito se enchia de mágoa.
Nesta época do ano, a má água costumava cair do céu. E, antes de ser um bálsamo, arrasava, assolava, aterrava todo mundo. No pior dos sentidos. Conceição morava no sudeste. E já não aguentava mais.
Ela passava muito tempo cabisbaixa, pensando em como tornar-se árida. Questão muito difícil. Nas mais diferentes ideias já havia pensado, inclusive já tentara ser forte, ser dura, ter ódio e alimentar-se apenas de farinha...
Claro que nada disso resolvera seu problema. Mas mesmo assim a insistência angustiosa de sua dúvida: por que as águas não passavam? não acabavam? não se gastavam? por que não tinham um fim em si mesmas? qual a origem da (m)água?
Em vão, Conceição, em vão! Essas águas não têm fim e também fazem parte de mim. Dito pelo não dito, termino aqui e assim.
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ResponderExcluirResolvi fazer o comentário aqui porque li todos e não consegui me decidir pelo favorito, o que eu tenho agora é uma coleção de favoritos. O que eu mais gosto é de ver aquilo que a gente sente e não sabe como dizer dito de uma maneira tão clara, tão simples, e ao mesmo tempo linda, exatamente por ser assim. Parabens!(Miriam}
ResponderExcluirBom saber que você tem uma coleção de favoritos! Obrigada de me acompanhar sempre e também me ajudar nesse meu "olhar" para as coisas simples. Você diz não saber dizer o dito, mas sabe sorrir o riso mais encantador e contagiante que já vi! Beijos e obrigada!
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